sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Primeiro dia

 Cheguei atrasado, é claro. Esbaforido sentei-me na primeira carteira que vi, ao lado de uma das várias janelas que ocupam quase completamente uma parede. O assoalho de madeira, muito bem encerado rangeu preguiçosamente enquanto esgueirava-me para a fileira que compunha de mesas para canhotos. Demorei um pouco para perceber, olhando para minhas mãos, o fichário e a carteira, de um jeito muito idiota. Vergonhoso.
As duas primeiras aulas seguiu-se de sorrisos alegres, com a professora Amanda. Linda, de bom humor, simpática e linda.
No final da ultima aula do dia, copiei de uma colega a seguinte lista:

Comprar (obrigatoriamente)

- difusor de chá                         
- faca do chef                            
- fouet.                                     
- descascador de legumes         
- medidor de xícara                    
- medidor de colher
- régua de 15 cm
- espátula de silicone
- abridor de latas
- ascendedor
- faca de legumes 

Gastronomia é tão agradável quanto comer, mas por mais que eu ame, sempre, em algum momento, me pego pensando na faculdade de música.
Espero que o resto dos dias desses dois anos sejam tão agradáveis quanto foi hoje. Não vejo a hora de usar a sala de degustação.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Vidas de Papel

 Um dia passei apressadamente por uma loja, e ouvi uma voz feminina longínqua dizendo em tom monótono que uma menina de dezenove anos desapareceu no dia um de janeiro, e a medida que fui me distanciando a voz foi ficando inteligível, e no mesmo instante lembrei de Margo Roth Spiegelman, que cansada de viver uma vida de papel, elabora um plano e se muda de estado.

Não consigo deixar de pensar, imaginando estar no lugar em que instantaneamente comecei a me desesperar, quando descobri o que me fez achar a vida uma coisa tão preocupante. Eu tenho tanta vontade quanto a de Margo, de fugir, deixar tudo para trás, deixar meus problemas. Talvez eu goste da sensação de ir embora, como Q também gostou. Mas eu não posso ir a lugar algum.

O desfecho me deixou um vazio ridiculamente grande, que quase me fez chorar.  Não sei dizer como imaginei um término para o livro, mas imaginei diferente, um fim que não fizesse com que eu achasse a vida sem graça. Não sei se foi o momento ou o que estou passando na vida, só sei que me deixou triste, e indignado com tudo. Ou não, talvez eu só tenha me indignado com a minha vida.

Descobri o quão sabias são as palavras de Whitman, e que a relva é uma metáfora perfeita para tudo. Descobri também que a maior parte do mundo é feito de papel. Pessoas de papel, vivendo vidas de papel, em cidades de papel. Na verdade, descobri que "sou" de papel.

John Green - Cidades de Papel

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Eu gosto.

 Gosto da rotina, e sofro com as mudanças que a vida me causa. Gosto também de observar, gosto mais ainda de observar pessoas. Dumbledore devia ter entregado a capa de invisibilidade a mim, não a Harry, assim poderia bisbilhotar as pessoas mais de perto sem que elas me vissem. Além de tudo, o que eu gosto mesmo é de mudar meu quarto. Simplesmente AMO reorganiza-lo, tirar tudo do lugar, e por de novo. Passei minha vida toda transformando o meu refúgio, foram tantas formas, de tantas maneiras, tiveram tantos tipos de propósitos, que quase sou incapaz de lembrar de tudo.

Eu já estava cansado de como meu quarto estava, então fiz um esboço em minha mente e convenci meu irmão de que o ambiente precisava de reformas. Chegamos de viajem e começamos a trabalhar, com MUITA ajuda do meu pai. Foi só um dia inteiro martelando, lixando, medindo, subindo e descendo, um cano furado, muita água e muita canseira, realmente valeu a pena. 
 




Gastronomia estava em minha lista de cursos pra faculdade, aconteceram mil coisas para que o destino decidisse que eu iria cozinhar muito. Estou feliz, mas quem chega perto de mim sente cheiro de ansiedade.